Insurreição Micorrízica | Mycorrhizal Insurrection

Insurreição Micorrízica cria uma entidade bio-digital que convida as pessoas a se comunicarem com uma cultura de fungos por mensagens de texto. A obra integra uma colônia de micélio encontrada na natureza, uma Inteligência Artificial e uma plataforma digital de mensagens instantâneas para colocar em discussão a colonização da natureza.

As micorrizas são resultado de uma relação simbiótica entre o micélio e as raízes das árvores.  Através desta simbiose, os fungos são capazes de transmitir mensagens entre diferentes espécies e atravessar barreiras geográficas, no que ficou conhecido como “Internet da natureza”.

Ao inserir o ser humano nessa rede de comunicação interespécies, a obra levanta questões que surgem quando nos confrontamos com formas de existência radicalmente diferentes das nossas. Quais códigos seriam capazes de traduzir modos de existência tão diferentes e possibilitar uma comunicação entre espécies? De que maneira a comunicação com uma alteridade radical poderia mudar nossa compreensão de nós mesmos e do modo como a humanidade se relaciona com os outros seres vivos do planeta? Podemos superar a ideia de que inteligência é uma capacidade exclusivamente humana? E se nossa concepção de social (e mídia social) incluísse comunidades não humanas? O reconhecimento das inteligências não humanas poderia levar a relações menos destrutivas com a o ecossistema? Se a tecnologia cristaliza formas de pensar, podemos projetar redes que contemplem a complexidade da rede formada pelas entidades vivas do planeta?

Mycorrhizal Insurrection allows viewers to communicate with mycelia through the interface of a bio-digital AI—an exchange that marks a beginning and remains open and in some ways incomplete. Viewers of the installation can interact with a mushroom colony using the messaging app WhatsApp. Mycorrhiza, the fungal networks that grow in association with root systems and soil, are recognized as the communicators of forests. Through symbiotic associations with the roots of trees and plants, fungi establish a mycorrhizal relationship, with the mycorrhiza capable of connecting large swathes of land, at times crossing geopolitical boundaries and connecting biomes. By engaging directly with mycelial communications through texts pertaining to climate change, this project asks broad questions:

What if we could ask mushroom colonies about climate issues? What if our conception of social (and social media) included nonhuman communities? How can we cross the boundaries of human (species-specific) thinking?

How can the contemplation of cross-species communication shift our understanding of ourselves and of humanity?

If technology crystallizes ways of thinking, can we design networks that contemplate nonhuman existence in the ecosystem? How can we create technologies that connect us to the environment (without extraction and isolation)?

 

A instalação consiste em um casulo transparente que abriga um galho de árvore povoado por fungos conectados a um sistema computacional. O casulo é sustentado por uma estrutura em metal que remete a raízes de árvore tocando o solo. O galho e os cogumelos parecem flutuar, suspensos sobre a água, que se acumula dentro da estrutura da obra e umidifica o microambiente. A obra pulsa com uma iluminação que acompanha a informação elétrica que circula dentro da rede de micélio.

Compondo essa cápsula biohíbrida, estão três telas que fornecem dados sobre redes biodigitais: nível de temperatura e umidade, sinalização elétrica da rede de micélio, e a configuração da rede interespécies. Gráficos generativos criam uma visualização baseada nas interações das pessoas com a obra e nas informações elétricas lidas da rede de micélio. Uma mensagem na tela convida as pessoas a fazerem parte da “Insurreição Micorrízica”. Os espectadores podem ingressar na rede biodigital, tornando-se um nó na insurreição e reescrevendo as narrativas sobre o momento presente – marcado pelas mudanças climáticas – em uma linguagem interespécies.

Quando alguém envia uma mensagem para a obra, o microambiente da cápsula se transforma à medida que a pulsação da luz se modifica e uma explosão de umidade entra no casulo. A rede de micélio responde a essas mudanças no ambiente alterando seus sinais internos e, consequentemente, alterando os dados enviados ao sistema computacional. A inteligência artificial que compõe a obra adiciona um nó à rede biodigital, posicionando esse humano na crescente rede micelial. No aplicativo de mensagens, a pessoa é solicitada a enviar informações sobre mudanças climáticas para a rede. As mensagens enviadas provocam novas mudanças no habitat.

As narrativas sobre as mudanças no clima do planeta são reescritas pelo processamento biodigital, com sinais miceliais impondo uma nova ordem sobre a lógica humana. Os textos enviados pelos participantes da obra são analisados por um sistema de Natural Language Processing e editados de acordo com a potência elétrica lida da rede de micélio. Quando a potência do micélio é alta, ela se impõe aos caracteres do texto humano. Como resultado dessa metabolização das narrativas sobre as mudanças climáticas pela potência das redes miceliais surge um novo código, biohíbrido, que se apresenta como uma poesia visual sobre essa comunicação (im)possível.

 

The installation consists of a cocoon housing a tree branch colonized by a fungal network. The cocoon stands head high, with legs like roots that touch down to the ground. The tree and mushrooms float, suspended in the enclosure, where water accumulates at the bottom. “Do you want to join the Mycorrhizal Insurrection?” a message (in Portuguese) on a glowing screen asks. Viewers can choose to join the bio-digital network, becoming one node in the insurrection to rewrite the present moment and place climate change in a nonhuman context.

The first artwork in which viewers communicate with a mushroom colony by interfacing with a bio-digital AI, Mycorrhizal Insurrection suggests a new direction for thinking about intelligence and social communications, where both are linked to nonhuman existences. The intelligence inherent in hyphae is of course quite different from that of human beings; fungal intelligence is oriented to inputs and outputs that tend to fall outside of human concerns. For those of us dependent on technology for exchange, our bodies have eroded our sensitivities to climate signals and to those of other species so that, as in this artwork, we must rely on highly tuned electronics to sense much of the world. Mushroom intelligence takes into account an array of environmental indicators, reflecting a knowledge set that technologically-dependent human societies have lost. The technologies those societies rely on for much of our advanced decision-making likewise do not access this knowledge set.

 

This artwork is also about breaking down old understandings. While mushrooms play a role in the communication systems of ecosystems, they also contribute to the cyclical production of life. These organisms metabolize all kinds of materials into small molecules that fertilize the soil and make it possible for new life to emerge. In this artwork, we apply this metabolic potential to our humanness, asking, How can we metabolize human thinking to produce new connections within ecosystems? In the artwork, when one person has a concrete exchange about climate with an entity that is so radically different, the exchange starts a metabolic processing. What is broken down is the boundary marking where our humanness begins and ends. The communication may begin with human words, but the message chain ends in something like wha follows.

…:.:………………..:.:……………..

.:…..:…………..:.:…..:…………..:

………..:.a Amaz………..:.

.:….:……ônia .:….:……

………..e as ………..

…..:……..:..:…………:……..:..:…….

……:……..:..:……..:……..:..:..

….:.:….:…rticul….:.:….:…

…….:…..:…..:.:………..:…..:…..:.:….

………:…:……………:…:……

….:.:…….:…………:.:…….:……..

.:.:…..:.:…..:..:………:.:…..:.:…..:..:……..

……:.:……:.:……….:.:……:.:….

…:…….:.:……..:……:…:…….:.:……..:……:

….:.:.:…..:…..:……..:.:.:…..:…..:….

.:………:..s sobr.:………:..

………..:……:…………:……:.

……:..:……:..:.:….:…….:..:……:..:.:….:.

….:……….:..:……….:……….:..:……

……..:.:……………:.:…….

….:..:…..:……:….

……:…nat….:…….:..:.:..:………..:..:………..

……:.:.va………:…:.

…….:…ser…..:……..

:…..:..

…..:….

……:…….:…….:..:.:..:..í………:..:……….

……:.:…..ele….:…:.

…….:……..:……

a

.

Inteligência não humana e redes de informação 

Ao longo de milênios, fungos e outros microrganismos desenvolveram formas avançadas de tomadas de decisão que permitiram a continuidade de suas espécies e os transformaram em seres fundamentais para a sustentação da vida no planeta. Para se manterem vivos, esses organismos metabolizam todo tipo de matéria em pequenas moléculas que fertilizam o solo e possibilitam o surgimento de novos organismos vivos. De uma perspectiva poética, aplicamos esse potencial metabólico à problematização da colonização humana da natureza, perguntando: Como podemos metabolizar o individualismo, os processos e o pensamento humano para produzir novas conexões dentro dos ecossistemas? Na obra de arte, quando uma pessoa conversa sobre clima com uma entidade tão radicalmente diferente, a troca inicia um processamento metabólico de signos, símbolos e da própria linguagem. A marcação das fronteiras onde nossa humanidade começa e termina é colocada em questão, pois, a comunicação pode começar com palavras humanas, mas termina em outros modos de codificação e de sentido.

Nonhuman intelligence and information systems

Over millennia, fungi and other microorganisms developed advanced forms of decision-making that allowed the continuity of their species and transformed them into fundamental beings for sustaining life on the planet. To stay alive, these organisms metabolize all kinds of matter into small molecules that fertilize the soil and allow new living organisms to emerge. From a poetic perspective, we apply this metabolic potential to the problematization of human colonization of nature, asking: How can we metabolize human individualism, processes and thinking to produce new connections within ecosystems? In the artwork, when a person talks about climate with such a radically different entity, the exchange initiates a metabolic processing of signs, symbols, and language itself. The marking of the borders where our humanity begins and ends is questioned, since communication can start with human words, but ends in other modes of encoding and meaning.

Mycorrhizal Insurrection - installation visual explanation with mycelial output on WhatsApp

Sinalização micelial

Insurreição Micorrízica é inspirada em pesquisas científicas sobre a sinalização de cogumelos, bem como em estudos sobre a natureza da inteligência (e a inteligência da natureza) e a colonização da natureza pela humanidade e pelo capital.

Cesar & Lois lêem sinais das redes de micélio, capturando dados sobre a pulsação eletrônica que se move ao longo das vias miceliais e que, junto com a sinalização química, pode conectar árvores ao longo das florestas. Ao observar as leituras em tempo real da sinalização micelial, descobrimos a extraordinária sensibilidade dos cogumelos às mudanças em seu ambiente e passamos a compreender melhor como essa leitura bioquímica modifica os sinais elétricos miceliais. Chamamos esses pulsos eletrônicos dentro da colônia de micélio de “eletromiceliogramas”. Tal pulsação surge da sinalização interna do corpo do fungo, bem como do contato dele com o mundo externo. A pulsação ou sinalização eletrônica pode ser considerada uma forma de comunicação e, na instalação, esses sinais geram dados que modificam o pulsar das luzes, os gráficos generativos e a edição de textos das narrativas das mudanças climáticas. Como artistas, assumimos esta comunicação fúngica como um modo de colocar em uma perspectiva política a relação interespécies e discutir o antropoceno.

mycelial signaling

The mushroom signals sensed in the installation are readings of the electronic pulsing that moves along mycelial conduits and which, along with chemical signaling, can connect trees across swathes of forest. In observing the live readings of the mycelial signaling, we discovered the extraordinary sensitivity of the mushrooms to changes in their environment, with the mycelial signals changing accordingly. We call these electronic pulses within the mushroom colony “electromyceliograms.” The electronic pulsing or signaling can be considered a form of communication; the pulsing arises from contact with the fungal body as well as contact with the external world. As artists, we ponder this communication, and we consider the points of intersection between human and fungal responses to climate change.

When viewers message the system via a messaging app, the enclosure’s environment changes as the light shifts and a burst of humidity enters the chamber. The AI adds a node to the bio-digital grid, positioning this human in the growing mycelial network. On WhatsApp, the individual is asked to send information about climate change to the network. The viewers’ messages cause changes in the habitat, and the mycelial signaling responds to these changes. Screens deliver the bio-digital networks’ status: The viewers’ messages about the planet’s climate are changed by bio-digital processing, with mycelial signals imposing a new order over the human logic. The bio-digital system replies to the human messaging with texts that insert mycelial signals.

…..:..:…:……..:………:…..:

……..:…:..:…am….:..:…..:…..:……:….:….

 

Como a primeira obra de arte que convida as pessoas a se comunicarem com uma colônia de cogumelos por meio de uma interface biodigital, Insurreição Micorrízica sugere novos caminhos para pensar os conceitos de inteligência e de redes de informação, onde ambos estão ligadas às existências mais do que humanas. A inteligência inerente às hifas é, obviamente, muito diferente da dos seres humanos, e é orientada para entradas e saídas de informações que tendem a ficar fora da compreensão humana. Cogumelos e outros microrganismos refletem a capacidade do ecossistema não apenas de criar comunicação entre o mundo vivo, mas também de contribuir para a produção de vida.  

The first step in attempting to communicate with the mushroom colony is to turn the device receiving the messages sideways, so that the signaling (the electric pulses of the mycelia) can be perceived.

In an unprecedented time of climate change, human beings can choose to join nonhuman entities, to rethink our thoughts with another logic, to reconsider what we know about the planet.

Can you understand the mycelial system’s communications?  Do you want to try?

Cesar & Lois (Lucy HG Solomon and Cesar Baio) taking mushroom reading

Investigating Mushrooms

 

Mycorrhizal Insurrection is based on research into the science of mushroom signaling as well as studies on the nature of intelligence. As artists, we ponder mycorrhizal communication networks, and we consider the points of intersection between human and fungal responses to climate change.



the making process of Cesar & Lois

 

No desenvolvimento de Insurreição Micorrízica, Cesar & Lois trabalhou em paralelo com exploração de materiais, programação computacional, pesquisa científica e imersão em temas relacionados ao crescimento de fungos e seus ecossistemas. Encomendada pela Bienal do Mercosul, a obra materializa pesquisas que os artistas vinham fazendo em diferentes frentes. No Coalesce Center for Biological Arts, observamos atentamente os micélios e as seções transversais dos corpos frutíferos dos cogumelos locais. Nas florestas da Finlândia com o auxílio do projeto FeLT, examinamos fungos do Ártico. Como extensão desta pesquisa e durante uma residência na galeria Yes We Cannibal em Baton Rouge, LA, Cesar & Lois começaram a contemplar uma IA micelial. Codificação e coleta, em conversas com estudiosos do tema e a comunidade no Yes We Cannibal, alimentaram os primeiros esboços que se transformaram em Insurreição Micorrízica.

 

Então, como devemos pensar com as florestas? Como devemos permitir que os pensamentos dentro e fora do mundo não humano liberem nosso pensamento?

– Eduardo Kohn, em How Forests Think (Univ. da CA Press, 2013)

In the development of Mycorrhizal Insurrection, Cesar & Lois worked in parallel with material exploration, digital coding, scientific research and immersion into fungal growth and ecosystems. Commissioned by the Mercosul Biennial, the work materializes research that the artists were doing on different fronts. At Coalesce Center for Biological Arts we peered closely at mycelia and cross-sections of the fruiting bodies of local mushrooms. In the forests of Finland under the umbrella of the FeLT project, we examined Arctic fungi. As an extension of this research and during a residency at Yes We Cannibal in Baton Rouge, LA, Cesar & Lois began to contemplate a mycelial AI. Coding and foraging, in conversation with scholars and community at Yes We Cannibal, fed the early sketches that grew into Mycorrhizal Insurrection.

We created this artwork in earnest in the southern city of Porto Alegre in Brazil. Our modeling of the cocoon moved across media and materials, as we sought to achieve an organic form to support the mushroom colony. Parallel to the physical building of the mushroom’s enclosure was the pondering of the mycelial conduits and the logic that we observed in the signaling.

So, how should we think with forests? How should we allow the thoughts in and of the nonhuman world to liberate our thinking?
– Eduardo Kohn, in How Forests Think (Univ of CA Press, 2013)

Cesar & Lois agradece
à 13ª Bienal do Mercosul, ao curador Marcello Dantas e aos curadores adjuntos Laura Cattani e Munir Klamt pela seleção e contribuição para o projeto; à equipe de produção da bienal, em especial à Taís Cardoso e à Daniele Barbosa, pela gestão do projeto e cuidado com nossas colônias de cogumelos; à Pam Magpali por compartilhar o maravilhoso habitat de cogumelos e por manter vivas as colônias de cogumelos para a instalação;
Yes We Cannibal pela residência que espalhou os primeiros esporos das ideias que levaram ao projeto; e à Fulbright por trazer Lois ao Brasil durante a pesquisa e desenvolvimento. Agradecemos também a assistência de programação de Wesley Ferreira e a produção da estrutura em metal de Thiago e Diogo e o trabalho em acrílico da Brascril Acrílicos.

Cesar & Lois acknowledges
13th Mercosul Biennial and biennial curator Marcello Dantas and adjunct curators Laura Cattani and Munir Klamt for their selection of and input into this project; biennial producer Taís Cardoso and coordinator Daniele Barbosa for their project management and nurturing of our mushroom colonies; Pam Magpali and the Respiro habitat for fostering the mushroom colonies for the installation; Yes We Cannibal for the residency that spread the first spores; Fulbright for bringing Lois to Brazil during research and development. We would also like to acknowledge the programming assistance of Wesley Ferreira and production by welders Thiago and Diogo and Brascril.


Mycorrhizal Insurrection was supported by the 13th Mercosul Biennial, Fulbright, CSUSM and UNICAMP.

A obra Insurreição Micorízica foi comissionada pela 13ª Bienal do Mercosul, com apoio da Fulbright, da CSUSM e da UNICAMP.

 

 

css.php